Asas Negras (final)

                Alexandre acordara às seis horas da manhã e começara a vasculhar o castelo, mas várias portas estavam trancadas, Alex achou que fossem depósitos de armas. A poucos metros havia uma mesa com uma caixa de fósforos, ele os guardou e continuou andando pela fortaleza. E assim foi durante toda a manhã. Ao meio-dia ele se encontrou em um grande salão com muita comida, Caim e Camila já estavam lá, mas Lilith não.

                – Onde esta Lilith? – perguntou Alex, ele notou que Camila á estava mais calma do que nos outros dias, mas ainda parecia assustada.

                – Ela esta interrogando aquela coisa para dar um jeito de nos tirar daqui. – respondeu Caim, que estava com o mau humor de costume.

                Alex não estava afim de discussão então só comeu em silencio. Depois do almoço Caim foi falar com Lilith e Alex e Camila foram para o pátio, aquele lugar tinha a grama verde, mas as arvores sem folhas com poucas flores espalhadas pelo lugar. Ele se sentou em um banco perto do muro com Camila, o sol que aquecia os dois estava forte, o calor era reconfortante.

                – você acha mesmo que vamos sair daqui? – perguntou Camila, mas Alex permaneceu quieto. – você está bem Alex?

                – Estou sim. – Alex respondeu voltando a realidade, na verdade era irônico como ele sempre quis passar um tempo a sós com Camila, mas agora sequer podia se concentrar nesse momento. – acho que vamos sair daqui, mas se nós sairmos eu duvido que continue tudo igual, por mais que tenham sido poucos dias, o que vimos aqui não pode ser ignorado. – o olhar de Camila ficou mais triste ainda.

                – Eu sei, mas eu queria poder esquecer tudo, se bem que com o que aconteceu em casa recente mente, acho que não existem mais lugares felizes em nenhum dos dois mundos para mim.

                ­– Eu sei que é difícil, mas você tem que aguentar. Eu sei como você se sente meus pais morreram faz dois dias.

                O olhar de Camila estava diferente, ela olhou para Alex com duvida no rosto.

                – Mas porque você não contou isso pra ninguém?

                – Porque na verdade nunca me senti em casa ou a vontade,  sempre me senti um peixe fora d’água.

                Alex mostrou para Camila a marca de cobra em seu braço, ele tem pensado nessa marca e no que significava havia dias, mas antes ele queria encontrar uma forma de sair dali.

                Os dois conversaram por um tempo e depois decidiram entra. Alex continuou andando pelo castelo e Caim passava todo o tempo com Lilith.

                Durante os dias seguintes os dias corriam da mesma forma, Alex andava pela fortaleza atrás e pegava objetos simples deixados por ai: fósforos, uma faca e outros materiais. Caim passava cada vez mais tempo com Lilith e todos os dias Alex e Camila passavam um tempo juntos conversando.

No final de cada dia Alex ia buscar mais informações com Miguel, mas muitas vezes era inútil. Miguel contou para Alex sobre uma tribo não muito longe dali e sobre como esse costumava ser um lugar lindo antes da chegada de Lilith e seus monstros.

Finalmente havia chegado a hora de Alex começar seu plano, naquela noite ele pegou uma mochila com água e comida e uma sacola cheia de armas, apanhou Camila no quarto dela e levou ela pelo caminho até o portão de saída.

– Onde nós estamos indo? – Camila estava um pouco confusa, mas agora ela confiava em Alex, se não confiasse nele não poderia confiar em mais ninguém.

– Vamos embora daqui, sei de uma aldeia não muito longe onde vamos poder nos esconder.

– mas por quê? Lilith não ia nos ajudar a ir embora?

– Depois eu explico, mas agora preciso que confie em mim. – ela não discutiu mais apenas seguiu Alex.

Quando já estavam próximos ao portão viram dois sentinelas já quase dormindo, Alex pegou uma espada da sacola e tentou andar em silencio torcendo para não ter que usar a arma. Falta de sorte. Um dos guardas que tinha a aparência de um orc do filme “Senhor dos Anéis” acordou e não tardou a acordar o outro – que era uma mistura de homem e lagarto gigante – Alex pediu que Camila fechasse os olhos e disparou na direção dos dois homens. Com a destreza de uma fera, Alex cortou a cabeça do orc e logo em seguida enfiou a espada no coração do homem-lagarto.

Ele ficou três segundos parado depois do segundo assalto, então voltou a si pensando em como tinha feito aquilo, achava que se fosse partir para a luta armada seria destruído, mas de alguma forma ele sobreviveu. Como? Ele não tinha tempo para pensar nisso agora, pegou a mão de Camila e saiu correndo na direção da aldeia que Miguel lhe contou. Depois de um tempo começaram a caminhar, Alex deixara a cidadela por volta da meia-noite e quando finalmente chegou à vila o sol não tardava a raiar. Num primeiro momento eles foram mal recebidos, o que já se esperava de um povo oprimido e em constante guerra, mas após Alex falar sobre Miguel e mostrar a tatuagem de cobra eles se acalmaram. Miguel havia explicado a Alex que a tatuagem tinha um significado, mas que não tinha tempo de explicar qual era. Na vila o líder explicou sobre uma lenda de que um caçador com essa marca viria liberta-los de um grande mal.

Alex estava com medo, mas sabia o que fazer, ele tinha um plano em mente.

Todos os dias ele acorda cedo e começava os preparativos para uma batalha iminente. Os homens da vila obedeciam-no sem questionar, tamanha era a força de sua voz. Ele  tinha que passar um bom tempo com Camila que foi se aproximando cada vez mais dele, ela já estava mais acostumada com aquela vila em estilo feudal, os seres eram dos mais variado tipos, desde belos homens com orelhas pontudas, até criaturas horrendas como os servos de Lilith.

                Alex perdeu a conta de quanto tempo passou lá, todos os dias preparando armadilhas e treinando com a espada, não só ele, mas todo mundo já que sabiam o que estava por vir. Mesmo Camila, que era mais fraca aprendeu a usar uma espada pequena e mais leve.

                A hora havia chegado. Depois de semanas de preparação Alex estava pronto.

                Naquela noite ele invadiu a fortaleza de Lilith, ele matou apenas dois guardas antes de finalmente chegar ao calabouço. Lá ele libertou Miguel com um golpe de sua espada, ele deu a ele um pouco de água e comida e depois ajudou ele a se levantar. Já era meia-noite, eles tentaram sair sem serem notados. Alex carregava Miguel com o braço dele ao seu redor.

                Eles conseguiram sair e finalmente o alarme soou.

                Alex já estava na floresta onde finalmente passou Miguel para um membro da aldeia. Aquela floresta era densa e quase assustadora no meio da noite com árvores grandes e, mas com as mais belas flores já vistas e das mais variadas cores. Miguel e o guerreiro da aldeia desapareceram na escuridão e Alex estava com espada em punho esperando seus oponentes, que ele fez questão de deixar pegadas para que eles o encontrassem.

                Quando os monstros, dos mais variados tipos e forma, apareceram Alex já estava preparado, logo a linha de frente caiu na primeira armadilha. Um grande buraco que estava cheio de serpentes. Os monstros atrás tentaram dar a volta, mas foram surpreendidos por guerreiros que estavam escondidos alguns chegaram até Alex, mas eles não eram muitos e a essa altura do campeonato Alex já estava mais do que preparado para destruí-los. E foi o que fez, eles caíram ao chão, mortos. Mas logo atrás vinha um segundo grupo liderado pó um garoto da idade de Alex, era Caim.

                Caim vinha com seu grupo rapidamente, ele usava uma roupa de pele de animal e não teve dificuldade pulara a vala onde estavam os outros monstros – alguns ainda gritavam de dor – Caim se aproximou de Alex com sua espada em punho, ele era maior do que Alex, sempre foi, mas agora ele também parecia mais forte e mais cruel. Os homens de Caim pularam a vala ou deram a volta e os aliados de Alex saíram de seus esconderijos e se prepararam para a batalha.

                Logo um combate entre dezenas de seres das mais variadas aparências começaram a se enfrentar, tendo em mãos machados, lanças, cimitarras e espadas de uma mão.

                 Alex matou cerca de 20 monstros inimigos, e quando viu Caim começou a correr. Não de medo, mas para que tivessem um lugar melhor para sua peleja. Chegaram a uma área perto de uma área sem arvore que não era iluminada só pela luz da lua, mas por varias tochas ao redor em formato circular, havia um tipo de buraco raso cheio de um liquido estranho e com um cheiro horrível. Caim alcançou Alex que estava parado esperando por ele.

                – Então você preparou um lugar especial mente para nossa luta? – disse Caim com uma expressão zangada e uma espada maior que a de Alex nas mãos. – E eu que achei que você só queria fugir.

                – Cale a boca e lute de uma vez – disse Alex com a voz ríspida e forte, completamente diferente de quando estava na Terra.

                Caim se zangou, mas obedeceu. Logo os dois começaram a bater espadas com uma incrível velocidade. Ambos eram daquele lugar, caçadores naturais e guerreiros formidáveis. A luta estava equilibrada, nenhum dele parecia ceder, mas logo a força bruta de Caim começou a levar vantagem.

                – PAREEEEEEM! – gritou uma voz vinda da floresta, era Camila, vestida com roupas nativas da tribo onde estavam. – Parem com isso, por favor. Vamos embora daqui, de volta para casa assim poderemos esquecer esse lugar e fingir que nada aconteceu.

                Caim se aproximou de Camila e começou a falar

­                – Voltar pra onde? Praquele mundo sem graça, onde minha maior diversão era irritar aqueles inúteis? Sem chance de eu voltar praquele lugar. – quando terminou a frase Caim agarrou Julia e a jogou longe.

                Estava feito, Alex tinha certeza de que ia partir Caim em mil pedacinhos.

                Alex partiu para cima de Caim, os dois batiam espadas de igual pra igual novamente, até que Caim decidiu se jogar em cima de Alex aproveitando seu peso, Alex se jogou para trás com o pé no peito de Caim, esse caiu no buraco cheio de um liquido Alex estava um pouco longe dele.

                – Esse é um liquido dessa região – Caim falava já mais calmo, ele sabia que a uta havia acabado. – as pessoa dessa vila me disseram que ele é altamente inflamável. – Alex pegou uma caixa de fósforos do bolso, ascendeu um e deixou cair em uma pequena e fina trilha do liquido que ia de onde Caim estava até a poça. – Eu planejava usar isso em Lilith, mas acho que vale apena o risco.

                Uma enorme explosão, o corpo de Caim fora reduzido a cinzas e não restou mais nada. Sequer houve tempo para suas ultimas palavras, não que fossem ser relevantes.

                Alex correu para ajudar Camila, que tinha um roxo no braço, onde Alex havia apertado e uns arranhões por causa do tombo. Eles se olharam por alguns segundos, ela não estava triste pela morte de Caim, não que não se importasse, mas estava muito mais feliz pela vida de Alex. Mas a alegria dura pouco, um monstro de cabelos e olhos vermelhos como carne fresca apareceu, sua pele era clara, os seios fartos com o busto desnudo, seria linda se da cintura para baixo não tivesse um corpo de serpente e os dentes e unhas afiados como navalhas.

                Era Lilith

                Aquele rosto era inconfundível. Com uma expressão furiosa, diferente do habitual carisma como os tratava, Lilith avançou para cima deles e Alex pulou para o lado com Camila ele disse para que ela corresse para a aldeia, ele pegou a espada e avançou contra o monstro.

                Ele tentava acerta-la com a espada, mas ela era muito rápida. Felizmente ele também era. Ocasionalmente ele acertava um pequeno corte e ela um ataque com a cauda, mas o monstro realmente tentava ataca-lo com as garras. Em um momento ela usou a cauda para fazer Alex tropeçar, ele caiu e ela usou a cauda como um chicote para tirar a espada dele. Lilith ia dar um ataque com suas garras, esse golpe provável mente cortaria o pescoço de Alex, mas alguém pulou atrás de Lilith e começou a puxar os cabelos dela, era Camila, ela pegou a adaga que levava consigo e tentou cortar Lilith, mas ela foi jogada longe, e a soltou a adaga durante seu voo de 7 metros de distancia, Lilith foi até ela, Alex correu na mesma direção, mas ele não era rápido o bastante.

                Lilith acertou Camila com suas garras e cortou fora a veia, o sangue jorrava quase sem fim, todo o corpo de Camila estava coberto de sangue.

                Alex virou-se para Lilith para ataca-la de novo, dessa vez ele estava mais furioso do que quando enfrentou Caim. Ele  avançou com mais velocidade e mais força do que antes, a luta agora era bem mais violenta, ambos se cortavam nos ataques do outro, mas nenhum queria desistir.

                Uma sombra passa voando e acerta Lilith. Era uma lança, que fora arremessada com a força de um canhão.

                Lilith agora estava presa em uma arvore agonizando e xingando em latim.

                Quando Alex se virou para ver quem havia atirado a lança viu Miguel se apoiando em um garoto, o mesmo que o levaria para a vila.

                – Sinto muito por sua amiga. – Miguel dizia com o rosto triste, mas Alex não prestava atenção.

                Alex foi até Camila, algumas lagrimas escorreram de seu rosto, ele começou a cavar com as próprias mãos um buraco.

                Miguel disse para que o garoto em que se apoiava fosse embora, ele caminhou mancando até Alex e ajudou o garoto a cavar. Tudo foi feito em silencio

                Por volta do meio dia Alex já tinha enterrado o corpo de Camila, preparado uma cruz e deixado algumas flores. Então Miguel finalmente decidiu falar.

                –Você quer voltar para o seu mundo?

                –Não. – Alex respondeu de uma vez. – Não tem nada lá que eu queira, nunca realmente gostei de lá. Vou conhece esse mundo, quem sabe eu encontre algo aqui.

                Miguel não discutiu, ele tirou a lança do peito do corpo morto de Lilith e entregou para Alex.

                – Você não vai precisar dela? – perguntou Alex.

                – não se preocupe comigo eu tenho mais coisas para faze r e não preciso dessa lança.

                Alex aceitou a arma e colocou-a nas costas. Ele e Miguel se despediram, Miguel levantou voo indo para o norte, Alex pegou sua espada e guardou na cintura. Ele olhou uma ultima vez para o tumulo de Camila sabendo que nunca mais se sentiria assim por ninguém. Ele pegou a partiu para em uma direção aleatória, novas aventuras aguardam por ele, mas o garoto jamais poderia esquecer-se de Camila.

FIM